O povo ganhou as ruas no período pré-eleitoral e os efeitos sociais produzidos vão muito além dos resultados eleitorais expressos na composição ministerial mais conservadora, dando largo e expressivo poder ao Agronegócio e as corporações que o constituem realocando seus interesses e projetos de continuidade de dominação. Esta reorganização respingou também nas disputas e novas composições governamentais.
Chegar ao fim de mais um ano e novamente não ter o que comemorar: eis a dura, trágica e histórica realidade dos povos indígenas e quilombolas deste país. Se aprovada a PEC 215/2000 promete empurrar os povos originários à literal necessidade de defesa nesta guerra milenar por seus territórios ancestrais e pela manutenção dos poucos direitos conquistados a custa de muita luta, suor e sangue. Para que fique nítido, essa PEC (Proposta de Emenda à Constituição) prevê a mudança em relação aos órgãos competentes pela homologação de territórios indígenas e quilombolas, tirando do INCRA e FUNAI a atribuição das demarcações e transferindo para a matilha do Congresso Nacional essa responsabilidade. O mesmo Congresso que age com truculência e indiretamente assassina os corpos e a cultura de nossos ancestrais. Isso significa que toda e qualquer demarcação de terras deverá passar pelas mãos sujas e corruptas da bancada ruralista para ser aprovada (ou sempre desaprovada), de maneira que os processos demarcatórios continuam totalmente parados.
Frente à judicialização e criminalização dos que fazem a luta pela terra e pela floresta, o acirramento das lutas em defesa das titulações dos territórios originários. O derramamento de sangue e as desaparições seguem sendo arquitetadas pela aliança entre latifundiários, politiqueiros e empresários que tem como único interesse o extermínio dos bens naturais para o uso privado do projeto de morte que visa apenas expandir seus lucros através do modelo colonial agroexportador (soja, minérios, carne).
O período de falsas promessas e falácias sobre a igualdade das urnas e votos passou; falácias sobre o socialismo elitista que não geram ilusões na maioria da população. É preciso fortalecer nossas ações na perspectiva do Poder Popular, rompendo o cerco do isolamento que sofrem nossos territórios através da solidariedade, da denúncia, da informação e atuação permanente junto ao nosso povo. Se os ataques feitos aos povos originários são feitos pelas mãos dos de cima, o que resta a nós os DE BAIXO é fechar o punho e resistir ombro a ombro lutando em defesa dos territórios, dos bens naturais e das culturas ancestrais.
Em todas as comunidades do campo, cidade e floresta há a permanente necessidade de criar e organizar novas formas de resistência, seja combatendo o avanço das plantações com veneno ou enfrentando a especulação imobiliária. A força das Jornadas de Luta não ficou restrita a junho. Ganhou visibilidade e solidariedade de muitas partes do mundo e o espaço que tomou no imaginário social gerando noções sobre a capacidade de auto-gestão, de luta permanente, de descrença no sistema e de confiança nos movimentos sociais como geradores do poder necessário para as reais conquistas, é o que pode possibilitar avançarmos para um modelo de sociedade que a vida tenha real valoração.
Continuar a luta dos pobres do campo, da cidade e da floresta.
Pela demarcação, titulação e defesa dos territórios indígenas e quilombolas!
Contra a PEC 215/200.
QUANDO OS DE BAIXO SE MOVEM, OS DE CIMA CAEM!
Federação Anarquista Gaúcha – FAG