Nota del Colectivo Anarquista Zumbí dos Palmares sobre las últimas manifestaciones

Publicado em 24/06/2013

Devemos reconhecer que estamos vivendo um momento histórico de alcance nacional e por mais que fenômenos com características semelhantes tenham ocorrido em outros cantos do mundo, absolutamente nenhuma organização política ou movimento social se quer pôde imaginar algo desse tipo há 2 meses atrás.

                Portanto, nenhum grupo organizado do campo da esquerda estava devidamente preparado para lidar totalmente com essa situação. Também nos colocamos nesse bloco. Porém, deve-se colocar que nós anarquistas, organizados a partir da perspectiva especifista (em nosso caso compondo a Coordenação Anarquista Brasileira – CAB), sempre apontamos diversos erros que boa parte da esquerda historicamente comete em sua forma de lidar com a organização da luta popular e participação em movimentos sociais.

Há que se reconhecer que uma forma autoritária, centralizadora e muitas vezes oportunista de se lidar com as lutas sociais dificilmente ganham espaço com manifestações desse tipo, que recentemente já vimos na Europa, mundo árabe e mesmo EUA. De fato, certas metodologias e formas de se fazer política, na qual exclui, sufoca ou controla o protagonismo de classe, foram e são funcionais para quem as defende, podem trazer acúmulo e resultados imediatos, porém, não exatamente o acúmulo e os resultados que, no nosso entender, se faz necessário para um projeto político emancipatório.

Também não temos a fórmula mágica, mas não é difícil constatar que a grande massa que foi às ruas não vivenciaram experiências de lutas, seja no local de trabalho, moradia ou estudo, o que dirá ser influenciada por ideias típicas das esquerdas. Se juntarmos toda a militância de esquerda, mesmo considerando aqueles que foram de “mala e cuia” para dentro do Estado para servir-se de gestores das mazelas sociais, mesmo considerando todo esse amplo campo, ainda seremos a minoria.

Em um mundo capitalista onde a desigualdade e a opressão são centrais e presentes em todas as esferas da vida, ter força ideológica enraizada e capaz de apontar para mudanças mais estruturais não ocorre por passo de mágica, tampouco levantando uma bandeira e esperando que todos se enfileirem atrás.

Não adianta tão somente repudiar e classificar como fascista todo e qualquer repúdio a bandeiras de partidos políticos. Práticas autoritárias de boa parte da esquerda, a influência nefasta dos meios de comunicação que agora apelam a um nacionalismo conservador anti-partido (posto como falsamente desinteressado), a atuação da polícia agindo com agentes infiltrados e a ação de pequenos grupos de extrema-direita criou o clima hostil e aflorou o sentimento não somente anti-partido, mas até mesmo contrários aos movimentos sociais mais organizados ou tradicionais (o que é ainda mais problemático, expondo que estes são percebidos como espaços para o carreirismo político e não como instrumentos de organização e luta das bases sociais). Assim, infelizmente, chegamos a ter casos de agressão física, o que repudiamos radicalmente.

Portanto, o sentimento anti-partido não é somente cria de uma direita golpista. É preciso ter humildade e saber que só podemos colher aquilo que plantamos. A disputa, inclusive, dos aparatos do Estado através de eleições do executivo e legislativo, não diferencia ninguém. É processado na cabeça da maioria da população como mais um partido a querer ocupar os cargos políticos em benefício próprio. Convenhamos, a história só confirma.

Pontuamos que levar ou não bandeiras de organizações, partidos ou movimentos é uma questão tática. Varia com a forma da manifestação e o ambiente. Essa sensibilidade (e humildade) faltou para muitos. Pode haver situações em que não levamos e nem vamos levar, em outras é importante, mas nunca as utilizando (ou qualquer outro símbolo) para se apropriar indevidamente de atos que são maiores que nossas organizações. A razão é simples: sempre devemos dar mais visibilidade à luta que dá sentido aquelas pessoas estarem ali. Isso vale para além do momento em que vivemos.

Na manifestação em Maceió do dia 20/06 a Resistência Popular de Alagoas, tendência política-social a qual nossa militância está presente, não participou do bloco organizado pelos partidos políticos e sindicatos. E nem sentíamos no dever moral de participar, pois não nos interessa ser confundidos com práticas das quais não fazemos e sempre criticamos. Evidente que isso não significa que concordamos com atitudes de hostilização a essas organizações, como já dissemos, embora nos seja também em certo sentindo compreensível o sentimento, como também já dissemos. Sabemos, inclusive, que o CAZP enquanto organização política anarquista não está também isento de sofrer hostilidades e agressões diversas.

Como afirmamos, a militância do CAZP é parte da construção da Resistência Popular em Alagoas, sendo essa bem maior que os militantes anarquistas que a compõe, e o que é mais importante, com espaços deliberativos independentes. Não podemos falar em nome da Resistência Popular, mas achamos necessário pontuar alguns esclarecimentos. A Resistência Popular, em plenária, deliberou sua forma de atuação nos atos, entre elas a orientação de evitar qualquer hostilidade a outros grupos ou partidos políticos. Qualquer fato diferente disso foram atitudes individuais, embora seja preciso registrar que fomos atacados verbalmente por militantes de outras organizações em outros atos nos últimos dias por escolhermos manter uma postura que acreditamos ser a mais certa e que não feria nenhum acordo prévio.

Para o cenário que está montado, entendemos sim que é preciso que a esquerda faça um combate ideológico e político com as classes opressoras e seus instrumentos (principalmente a grande mídia) sobre os rumos dessas manifestações, tentando tornar-se uma força mais relevante ainda que não seja maioria. Devemos nos deter as pautas e lutas que nos une muito mais que a propaganda política de cada grupo, que para nós deve ser secundária. O momento é de unidade na luta, mas não abriremos mão de nossos princípios.

Por fim, é preciso afirmar que sem o trabalho de base e a criação de instrumentos de luta de base autônomos, legitimados cotidianamente no protagonismo popular, teremos o mesmo cenário em outra oportunidade.

Transporte coletivo 100% público!

Por reforma agrária e urbana!

Pelo fim dos monopólios dos meios de comunicação!

Participação e protagonismo popular!

Protesto não é crime!

COLETIVO ANARQUISTA ZUMBI DOS PALMARES

24 de junho de 2013

Sobre fau