ANÁLISE POLÍTICA DA PROVÍNCIA, O DEBATE NO INTERIOR DA ESQUERDA RESTANTE – 12/10/2013, Bruno Lima Rocha
Vou tecer alguns comentários ao lamentável texto de Roberto Robaina, dirigente do Psol-RS publicado no blog do vereador de Porto Alegre, o trabalhista do Psol, Pedro Ruas. Antes de seguir, coloco que não tenho delegação para falar em nome de setor algum,mas como libertário que não está mais na condição de militante organizador e sim um companheiro que modestamente analisa e repercute, partindo de um ponto de vista. O texto referido segue nos comentários.
Comecemos por um trecho do texto quando Robaina afirma:
«Mas a burguesia consegue ainda manter o debate das depredações porque há um setor ultra minoritário da esquerda – este conceito é tão extenso que cabe nele muita gente – que defende politicamente – e em alguns casos praticam – ações de pequenos grupos contra o patrimônio público e privado, contra bancos, lojas, museus?…. Esta posição política é inaceitável e tem feito o jogo da burguesia. Estes setores identificados com idéias anarquistas ( embora nem todos os grupos anarquistas nem muito menos todos os indivíduos que defendam a ideologia anarquista tenham esta posição) fazem o jogo da burguesia e seus governos. Eles jogam água no moinho da ideologia burguesa e fortalecem a pauta que a classe dominante quer debater.»
Ora, se ele, Robaina, sabe que nem todos os grupos e indivíduos anarquistas são partidários da tática conhecida como Black Bloc, porque não os cita. Porque ele, Robaina, repete o mesmo dito pela ex-deputada Luciana Genro em plena RBS (numa edição do Programa Conversas Cruzadas, na TV Com, emissora em UHF do referido), quando a dirigente do Psol afirma: «o Bloco de Luta está rachado e discordamos quanto às táticas empregadas?!» Qual o motivo do racha e porque o desespero em desmarcar seu militante estudantil, ao lado do dirigente juvenil do PSTU, das práticas do Bloco de Lutas?
Robaina segue afirmando:
«Apesar disso, ou seja, apesar do fato de que a política pequeno-burguesa e individualista sustentada por estes setores anarquistas faça o jogo da burguesa e dê argumento para a burguesia, o regime e seu governo nos atacar e nos perseguir ( como ficou evidente com a invasão do apartamento de uma das nossas principais lideranças juvenis, o camarada Lucas Maróstica), nos recusamos a condená-los juridicamente. Mais do que isso: os defendemos contra a repressão do Estado. Os anarquistas em geral são lutadores contra o estado capitalista, embora suas posições políticas muitas vezes produzem prejuízos enormes para a luta do povo. Por isso mesmo não aceitamos, é claro, que os anarquistas e ultraesquerdistas em geral tentem nos impor sua política e queiram que nós assumamos o que não defendemos nem fa zemos. Por isso a cada um cabe defender suas idéias políticas diante do povo. É isso que estamos fazendo. Confiamos em nossas idéias e consideramos as posições anarquistas superadas historicamente e prejudiciais na prática da luta do movimento de massas.»
Vamos além. Quais são as práticas superadas historicamente? As da democracia direta ou a do eleitoralismo burguês, tática esta empregada pela legenda herdeira do reformismo militante do PT nos anos ’80. Robaina não perde a oportunidade de, num momento delicado, repetir a mesma manobra do PSTU em junho de 2013, quando um artigo infeliz de um militante morenista obrigou o anarquismo organizado a respondê-lo. Ao tentar desmarcar-se da criminalização, Robaina reafirma a covardia política – e como dói dizer isso, quando tenho dezenas de conhecidos no Psol e que são militantes muito comprometidos com as causas populares – e manobra em mão dupla. Por um lado, afirma sua legenda – uma frente de correntes com dirigentes eleitoralistas – como partido anticapitalista (o que não é verdade, vide os conflitos na bancada desta legenda dentro do Congresso), ou essencialmente socialista (social-democrata nos termos do PT dos anos ’80 seria a melhor definição, ao menos das alas majoritárias). A outra via da manobra, ao tentar se apresentar como «responsável», assume as regras do jogo e isola quem não condena publicamente a tática empregada por jovens ainda pouco ou nada orgânicos, e que não estão identificados em nenhum dos setores reprimidos pelo governo do estado do RS. A «responsabilidade» política pode incluir uma tratativa de que a repressão incida sobre alguns dos alvos e não em todos os atingidos na semana anterior em Porto Alegre. A saber, o setor anarquista organizado, a Federação Anarquista Gaúcha – FAG, tem sede pública e existe há mais tempo que o Psol (foi fundada em 18 de novembro de 1995) e já teve sua sede invadida 3 vezes, sendo 2 no atual governo. O Moinho Negro, um centro cultural, é espaço conhecido da esquerda rio-grandense e também teve sua sede física invadida por forças policiais. O companheiro que é alvo de investigação e se organiza em espaços múltiplos de ação cultural é muito conhecido e respeitado. Portanto, a qual setor Robaina se refere? A algum alvo ainda não atingido pela repressão?
Por fim, ao repetir a velha falácia de os «anarquistas», Robaina joga fora sua formação política para um apelo de tipo publicitário. Poderíamos afirmar a posição dos «marxistas», incluindo o próprio governador Tarso Genro e compará-lo com Robaina e Luciana ou João Pedro Stédile. Pedro Ruas não seria o caso, pois sua formação é trabalhista, tendo militado por décadas no PDT de Leonel Brizola. Mas, como se sabe, não se reproduz uma canalhice com outra, menos ainda em um momento como esse. Repito que há dezenas de militantes no Psol, ou recém saídos deste, que não são remunerados, não têm carreira política profissional ou adeptos do aparelhismo e de certo não concordam com tamanha falácia. Peço desde já minhas sinceras desculpas a estas e estes, mas no momento em que um dirigente de uma sigla se manifesta, ou o partido o desmente ou então paga pelo dito.
Este breve comentário foi uma resposta sucinta, escrevendo ao pensar, sem muito estudo prévio, até porque tal texto não é merecedor de tamanha consideração. Infelizmente, o pior da interna sindical reflete-se em público em uma conjuntura em que a esquerda restante na Província do RS, eleitoralista ou não, deveria fazer um esforço maduro de coordenação e solidariedade. É uma lástima.